NINFEIAS
– Núcleo de Investigações Feministas
Ocupação
Feminista 25 de novembro de 2014.
Natureza:
Relato de vivência
Ação:
Oficina com usuárias do CRAS Centro de Referência e Assistência Social – Bairro
São Cristóvão – Ouro Preto-MG
Redigido
por Thaiz Cantasini
Durante
a ocupação realizada aos 25 de novembro de 2014 no Clube Quinze de Novembro,
aconteceu a oficina com mulheres sob a condução de Thaiz Cantasini e Karla
Ribeiro.
Os
jogos trabalhados partiram do estudo acerca do método Boal “Teatro do Oprimido”
(Jogos para Atores e não-atores) e de
suas variações com jogos de abertura de ouvidos de R.Murray Shafer contidos em “O
Ouvido Pensante” (2009). Além disso, as
oficineiras experimentaram a inserção de práticas nas entrelinhas de ambos os
métodos, a partir do instante-já provocando o feminino de cada participante.
A
oficina teve duração de 2 horas, estando presentes e ativas: Taynara
(Assistente Social do CRAS-São Cristóvão); Natália (Assistente Social do
CRAS-São Cristóvão); Diva (Usuária do CRAS – São Cristóvão); Isabela (graduanda
em Artes Cênicas UFOP); Cida (Feminista do Sarau das Cachorras); Karla
(Oficineira) e Thaiz (Oficineira).
Esperávamos
mais mulheres, mas o tradicional tempo chuvoso de Ouro Preto-MG, acreditamos,
tenha sido um empecilho para a participação integral das convidadas
participantes. Porém, a prática foi realizada e pudemos presenciar e vivenciar
um espaço de troca entre mulheres de diferentes realidades. O que foi positivo,
uma vez que consideramos, acima de tudo, uma oficina como um espaço
democrático-afetivo de experienciação coletiva tendo como objetivo a troca de
saberes, percepções e possíveis empoderamentos aos diferentes femininos, ali,
em teia, acontecidos.
Pensando
em novas maneiras, libertárias, de se viver o feminino no cotidiano e tendo
como arcabouço teórico Augusto Boal e R.Murray Shafer demos início a oficina
dando ênfase ao corpo de cada mulher e sua construção social aliado á práticas
de percepção sonora e composição musical a partir do espaço em que estávamos.
Acreditamos que o processo de criação
musical a partir da percepção do espaço em que a pessoa está inserida, altera
seu olhar sobre seu “estar no mundo”. Segundo Hermann Hesse, em o Jogo das Contas de vidro, “A
música de uma época harmoniosa é calma e jovial, e o governo equilibrado. A
música de uma época inquieta é excitada e colérica, e seu governo é mau. A
música de uma nação em decadência é sentimental e triste, e seu governo corre
perigo”.
A
realidade de um grupo é explicitada no seu fazer musical. Essas vivências e
investigações sonoras captadas no espaço, seja por uma imagem fixa, em
movimento, ou mesmo uma memória latente desta pessoa, exterioriza sua maneira
de entender o mundo e levanta reflexões de como modificá-lo.
Propusemos perguntas em papeís dobrados
e anônimos como: “Como está seu feminino
hoje?” e “Do que você precisa se
livrar para ser livre?” e a partir das respostas tivemos o material
(palavras e sons do espaço) para inserirmos na composição musical coletiva.
Uma das participantes, chamou a nossa
atenção por escrever e ler com muita dificuldade. No exercício “Mimosas
Bolivianas” de Boal (onde a participante é tocada pelas companheiras
aleatoriamente, reagindo a este toque com um movimento contínuo e leve, criando
danças pessoais estimuladas por estes mesmos toques), percebemos a dificuldade,
também de se movimentar, de Diva. Ao final da prática, Diva dançava com os
olhos fechados, já sem nenhum som que a acompanhasse. Um dos momentos mais
bonitos da tarde...Em seu relato escrito, que teve a ajuda de parceiras de
oficina para organizar as letras como queria no papel, ela escreveu: “Sinto mulher como nunca a tempos”.
Agora, inseriremos aqui fotos dos
relatos sobre os femininos das participantes. Diva quis assinar o nome.
Depois das composições
musicais e da escuta destas, queimamos os papéis com as respostas da seguinte pergunta:
“Do que você precisa se livrar para ser livre?”. Um ritual. As cinzas, a
lágrima. Certo grão de alívio. Um recomeço, uma força coletiva pelo fim da
violência contra mulheres, contra todas. E um mantra que repetíamos, em coro,
observando as cinzas, os nossos “Nãos”:
Eu
me amo. Eu me aprovo. Eu mereço o melhor. Eu aceito o melhor agora... Eu me
amo. Eu me aprovo. Eu mereço o melhor. Eu aceito o melhor agora... Eu me amo.
Eu me aprovo. Eu mereço o melhor. Eu aceito o melhor agora....
Encerramos o encontro com um abraço caracol, aninhadas,
animadas...!
Thaiz Cantasini
NINFEIAS
– Núcleo de Investigações Feministas
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