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ninfeias

O NINFEIAS, núcleo de pesquisa coordenado pela pesquisadora e performer Nina Caetano - professora do departamento de artes cênicas da UFOP - visa a investigação de teorias feministas e práticas performativas. Funciona como uma rede colaborativa, instigando a provocação artística, encontros e trocas entre estudantes da Graduação e da Pós Graduação da UFOP e a comunidade ouropretana.
Atualmente o NINFEIAS é composto por Amanda Marcondes, B. Campos, Caroline Andrade, Caroline de Paula, Caroline Moraes, Danielle dos Anjos, Giulia Oliva, Jackeline Análio, Keila Assis, Marcinha Baobá e Renata Santana.

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

A barbie tem vagina?

dolls de Jake and Dinos Chapman

Da boneca
sem vagina
a menina nada tem

Suas coxas
         não são como as minhas
Seus seios
        não são os ausentes-meus
Sua bunda
       não chegou aqui
Suas pontas
        em mim são pés

Mas ela está aqui
            ela é viva
a vejo na TV
a vejo no PC
a vejo

dolls de Hans Bellmer
Vejo gente que virou ela
ou ela que virou a gente?
                                 não sei
só sei
que a quero!

peço à pai
         mas ele não mora com mãe
peço à mãe
         mas ela chora
   se peço
   ela chora

Disse que também queria
mas que não podia
cresceu assim

Talvez se tivesse
          seria diferente
Branca     alta
     elegante
rica
     loira     peituda
talvez            se tivesse
seria gente
               ou
ainda seria como a gente?

A única coisa desse 'corpo' que se assemelha ao real, ao agora da menina, seria sua vagina. Que deixa de existir, e, assim, a menina deixa de existir.
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quarta-feira, 9 de setembro de 2015

história da sexualidade, foucault 1

versão 00 Fichamento – História da Sexualidade, a vontade de saber, v 1, Michael Foucault “Segundo Foucault, a sociedade capitalista não obrigou o sexo a calar-se ou a esconder-se. Ao contrário, desde meados do século XVI-processo que se intensifica a partir do século XIX com o nascimento das ciências humanas- o sexo foi incitado a se confessar, a se manifestar.(…). Uma primeira abordagem (…) parece indicar que a colocação do sexo em discurso foi submetida a um mecanismo de crescente incitação (…)” compondo inclusive uma ciência da sexualidade. (Roberto Machado)* Cáp 2 – a hipótese repressiva A incitação aos discursos Foucault contrapõe a hipótese de que a partir do século 17, com a burguesia, surgiria um período de repressão sexual e que dela haveria vestígios na sociedade moderna. Para ele, entre o século 17 a 20, há uma explosão do discurso sobre o sexo. Talvez tenha ocorrido uma depuração do vocabulário permitido: “polícia do enunciado”, “onde falar”, situações em que é permitido, relações sociais que permitem falar sobre o sexo e, também, as regiões de silêncio absoluto, onde não pode ocorrer o discurso: relação pais e filhos, patrões e serviçais. Mas, analisando-se minunciosamente, o discurso cresceu, principalmente a partir do século 18. Aumentam-se os discursos no campo do exercício do poder, tanto institucionalmente, quanto pelas instâncias do poder. Sendo que estas apresentam uma curiosidade, obstinação, em apurar e detalhar sobre o sexo. A igreja também incita este discurso, indicando que as confissões dos fieis sejam as mais detalhadas possível, com atos, desejos e pensamentos sexuais. A contrarreforma estimula a prática de confissões, e dá maior gravidade à penitência relacionada as ‘insinuações da carne’: “Tudo deve ser dito”. Para o bom-cristão há a “tarefa de dizer, de se dizer a si mesmo e de dizer a outrem, o mais frequentemente possível, tudo o que possa se relacionar com o jogo dos prazeres, sensações e pensamentos que tenham alguma afinidade com o sexo”, portanto, há a colocação do sexo em discurso. Um efeito do discurso sobre o sexo da igreja do século 17 é a influência e projeção na literatura erótica do mesmo período. As confissões sexuais por ora ditas aos padres tornam-se presentes também na literatura, ambas em primeira pessoa. Mas, enquanto a pastoral procurava gerar “domínio, desinteresse, reconversão espiritual, retorno a deus, efeito físico de dores devido a ‘tentação’ ”, o romancista aspirava repetir, prolongar e estimular as cenas sexuais. Só que ambas trazem a tarefa de se dizer tudo sobre seu sexo, tarefa existente há 3 séculos. Considerando-se estes três campos: Igreja, Instâncias do Poder e Instituições, tem-se que “o sexo é açambarcado e como que encurralado por um discurso que pretende não lhe permitir obscuridade nem sossego”. Não há uma censura sobre o sexo, mas uma “aparelhagem para produzir discursos sobre o sexo”. Sua expansão ocorreu principalmente pelo “interesse público”, em que apresenta seu mecanismo de poder em que tem como essencial para a sua manutenção o discurso sobre o sexo. No início do século 18 associa-se ao sexo um discurso de racionalidade, surgem incitação política, econômica e técnica, a falar sobre o sexo. “Análise, contabilidade, classificação, especificação – há pesquisas quanti e qualitativas”. Já entre os séculos 18 e 19 outros focos suscitam o discurso sobre o sexo, como a medicina, a psiquiatria e a justiça penal. Governos passam a lidar com ‘população’, ao invés de povo ou sujeitos. E nesta população são problematizadas a natalidade, a mortalidade, o uso de contraceptivos, a esterilidade, a idade do casamento, o nascimento legítimo/ilegítimo, a frequência das relações sexuais, todas questões girando em torno do sexo. “A conduta sexual da população é tomada como objeto de análise e alvo de intervenção”, surgem a regulação natalista e antinatalista, a análise de condutas sexuais, e as campanhas. O sexo é julgado legalmente, administrado, gerido e analisado. Torna-se questão de ‘polícia’, não a polícia repressiva, atual, mas a polícia do sexo, que o regula por meio de discursos úteis e públicos, e não pelo rigor da proibição. O sexo tornou-se objeto de disputa ente o Estado e o indivíduo, o que antes era conversado entre crianças e adultos já não ocorre. Outras pessoas é quem falam sobre, há outros pontos de vista e outros efeitos do discurso sobre o sexo. Os colégios do século 18 evidenciam o pensamento e construção focados na regulação do sexo, incluindo precauções, punições e responsabilidades, formulados pelas pessoas que organizavam, autorizavam e arquitetavam o espaço educacional. As evidências constam no espaço da sala, na forma das mesas, no arranjo dos pátios e dormitórios, nos regulamentos de recolhimento e sono. O discurso interno da instituição diz que a sexualidade existe, precoce, ativa e permanente. O sexo colegial torna-se problema público. Médicos aconselham escolas e famílias, pedagogos projetam metodologias, professores falam e escrevem aos alunos. Enquanto na Idade Média havia um discurso unitário em relação ao sexo (da confissão e da carne), nos séculos posteriores via-se que esta unidade discursiva se dispersou, decompondo-se e multiplicando-se. Este processo foi marcado por conflitos entre o discurso confessionário (em primeira pessoa) e os discursos racionalistas. Num período historicamente curto, 300 anos, ocorre um grande acúmulo de discursos sobre o sexo (biológicos, pedagógicos, econômicos, psicológicos, judiciais), e hoje acreditamos piamente que falamos timidamente ou pouco sobre o sexo. Em relação a linguagem do discurso sobre o sexo, Foucault considera que as alterações na expressão/vocabulários em relação ao sexo têm a função secundária de tornar o seu discurso “moralmente aceitável e tecnicamente útil”. A discrição e o mutismo funcionam ao lado de estratégias amplas. Para além do binarismo, que vê ‘o que se diz’ e ‘o que não se diz’, há diferentes maneiras de não dizer, há uma distribuição diferenciada de quem pode e quem não pode falar sobre, há permissões para alguns tipos de discursos. Enfim, será que dizer que não se fala sobre sexo não é uma incitação a se falar mais dele? “O que é próprio das sociedades modernas não é o terem condenado, o sexo, a permanecer na obscuridade, mas sim o terem-se devotado a falar dele, sempre, valorizando-o como ‘o segredo’. ” *As partes entre ("") foram diretamente extraídas do livro. retirado de https://acaboclavaifalar.wordpress.com/