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ninfeias

O NINFEIAS, núcleo de pesquisa coordenado pela pesquisadora e performer Nina Caetano - professora do departamento de artes cênicas da UFOP - visa a investigação de teorias feministas e práticas performativas. Funciona como uma rede colaborativa, instigando a provocação artística, encontros e trocas entre estudantes da Graduação e da Pós Graduação da UFOP e a comunidade ouropretana.
Atualmente o NINFEIAS é composto por Amanda Marcondes, B. Campos, Caroline Andrade, Caroline de Paula, Caroline Moraes, Danielle dos Anjos, Giulia Oliva, Jackeline Análio, Keila Assis, Marcinha Baobá e Renata Santana.

sábado, 24 de janeiro de 2015

saudando as formigas

"é trabalho de formiguinha!" sempre repeti essa frase para mim, lembrando que o trabalho é árduo e é aos poucos.
as formigas são criaturas belas, delicadas e determinadas, carregam com força suas folhas, doces, e afins e deixam um rastro por onde passam...

hoje eu saúdo as pequenas, as pequenas ações que nos fortalecem para continuar: ao infinto e além.

desde a criação do ninféias, voltei meus olhares para crianças... e hoje, aconteceu algo mágico!
a contaminação começou...

numa tarde de sábado... dentre meus primos, só uma, ela... a menina... que gosta de princesas, barbie, com óculos cor de rosa sempre na cabeça e uma bolsa ao lado, combinado. ao começarmos nossa conversa, perguntei se ela já estudava e sua resposta entusiasmada disse: sim! e ficou tão excitada ao contar todas as coisas queria comprar... depois elogiou a barbie e não tirou o óculos da cabeça... a lágrima que ameaçou a cair dos meus olhos, voltou para o meu corpo em forma de combustão:

- A BARBIE É FEIA! MAGRELA E LOIRA! OLHA PRA VOCÊ... SEUS CACHOS SÃO LINDOS!

-Não, a barbie é linda...

- A BARBIE É FEIA!

percebi o que acontecia... durante nossa primeira conversa ela não tirava os olhos da TV... ousei, desafiei a lei da manipulação e apertei o botão vermelho.

- E livro, você tem lido?

- Aham... E seus óculos se mantiveram na cabeça...  Eu gosto de princesa!

- Que massa! Mas, lembra se... Existem princesas, príncipes, castelos e dragões e tudo isso é faz de conta... VAMOS BRINCAR DE CARRINHO!

a energia contaminou a todos, e logo brincadeira começou...

- Carrinho é legal! Eu gosto!

a minha felicidade virou sol, e brilhei com essa pequena afirmação... depois ao pegar uma folhinha de gibi, entreguei em suas mãos e disse: Olha que massa, leia pra gente... os outros queriam competir ao pegar o papel, mas eu relutei: É a vez dela! e ela leu... usou um pouco da sua imaginação que não foi explorada aos quatro anos de idade e leu! um ponto a mais no jogo...

- Vamos fazer um piquenique? uma voz veio do além!!

- VAMOS!! Todos celebram!

- E a barbie é feia!

- É a barbie é feia... ela disse! Dois pontos...

durante o passeio, brincamos TODOS de futebol... ela se alegrou tanto... e depois, quando se cansou, quis tirar a camisa, mas as outras disseram que é coisa feia:

- ELA NEM TEM MAMILO! ELA É CRIANÇA! fui mais longe ainda... e ela.... minha querida priminha... tirou a camisa e sorriu ainda mais! vários pontos...

AAAAh... que dia bom! termino o dizendo e pedindo que crianças se mantenham crianças....

sendo assim, concluo e saúdo as formigas, sua força, sua determinação e seu rastro invisivelmente visível aos olhos daqueles que acreditam!

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Dos lilazes de cada dia:

NINFEIAS – Núcleo de Investigações Feministas
Ocupação Feminista 25 de novembro de 2014.
Natureza: Relato de vivência
Ação: Oficina com usuárias do CRAS Centro de Referência e Assistência Social – Bairro São Cristóvão – Ouro Preto-MG
Redigido por Thaiz Cantasini

Durante a ocupação realizada aos 25 de novembro de 2014 no Clube Quinze de Novembro, aconteceu a oficina com mulheres sob a condução de Thaiz Cantasini e Karla Ribeiro.
Os jogos trabalhados partiram do estudo acerca do método Boal “Teatro do Oprimido” (Jogos para Atores e não-atores) e  de suas variações com jogos de abertura de ouvidos de R.Murray Shafer contidos em “O Ouvido Pensante” (2009).  Além disso, as oficineiras experimentaram a inserção de práticas nas entrelinhas de ambos os métodos, a partir do instante-já provocando o feminino de cada participante.
A oficina teve duração de 2 horas, estando presentes e ativas: Taynara (Assistente Social do CRAS-São Cristóvão); Natália (Assistente Social do CRAS-São Cristóvão); Diva (Usuária do CRAS – São Cristóvão); Isabela (graduanda em Artes Cênicas UFOP); Cida (Feminista do Sarau das Cachorras); Karla (Oficineira) e Thaiz (Oficineira).
Esperávamos mais mulheres, mas o tradicional tempo chuvoso de Ouro Preto-MG, acreditamos, tenha sido um empecilho para a participação integral das convidadas participantes. Porém, a prática foi realizada e pudemos presenciar e vivenciar um espaço de troca entre mulheres de diferentes realidades. O que foi positivo, uma vez que consideramos, acima de tudo, uma oficina como um espaço democrático-afetivo de experienciação coletiva tendo como objetivo a troca de saberes, percepções e possíveis empoderamentos aos diferentes femininos, ali, em teia, acontecidos.
Pensando em novas maneiras, libertárias, de se viver o feminino no cotidiano e tendo como arcabouço teórico Augusto Boal e R.Murray Shafer demos início a oficina dando ênfase ao corpo de cada mulher e sua construção social aliado á práticas de percepção sonora e composição musical a partir do espaço em que estávamos.
Acreditamos que o processo de criação musical a partir da percepção do espaço em que a pessoa está inserida, altera seu olhar sobre seu “estar no mundo”. Segundo Hermann Hesse, em o Jogo das Contas de vidro,  “A música de uma época harmoniosa é calma e jovial, e o governo equilibrado. A música de uma época inquieta é excitada e colérica, e seu governo é mau. A música de uma nação em decadência é sentimental e triste, e seu governo corre perigo”.
            A realidade de um grupo é explicitada no seu fazer musical. Essas vivências e investigações sonoras captadas no espaço, seja por uma imagem fixa, em movimento, ou mesmo uma memória latente desta pessoa, exterioriza sua maneira de entender o mundo e levanta reflexões de como modificá-lo.
Propusemos perguntas em papeís dobrados e anônimos como: “Como está seu feminino hoje?” e “Do que você precisa se livrar para ser livre?” e a partir das respostas tivemos o material (palavras e sons do espaço) para inserirmos na composição musical coletiva.
Uma das participantes, chamou a nossa atenção por escrever e ler com muita dificuldade. No exercício “Mimosas Bolivianas” de Boal (onde a participante é tocada pelas companheiras aleatoriamente, reagindo a este toque com um movimento contínuo e leve, criando danças pessoais estimuladas por estes mesmos toques), percebemos a dificuldade, também de se movimentar, de Diva. Ao final da prática, Diva dançava com os olhos fechados, já sem nenhum som que a acompanhasse. Um dos momentos mais bonitos da tarde...Em seu relato escrito, que teve a ajuda de parceiras de oficina para organizar as letras como queria no papel, ela escreveu: “Sinto mulher como nunca a tempos”.
Agora, inseriremos aqui fotos dos relatos sobre os femininos das participantes. Diva quis assinar o nome.




Depois das composições musicais e da escuta destas, queimamos os papéis com as respostas da seguinte pergunta: “Do que você precisa se livrar para ser livre?”. Um ritual. As cinzas, a lágrima. Certo grão de alívio. Um recomeço, uma força coletiva pelo fim da violência contra mulheres, contra todas. E um mantra que repetíamos, em coro, observando as cinzas, os nossos “Nãos”:
Eu me amo. Eu me aprovo. Eu mereço o melhor. Eu aceito o melhor agora... Eu me amo. Eu me aprovo. Eu mereço o melhor. Eu aceito o melhor agora... Eu me amo. Eu me aprovo. Eu mereço o melhor. Eu aceito o melhor agora....

Encerramos o encontro com um abraço caracol, aninhadas, animadas...!


Thaiz Cantasini
NINFEIAS – Núcleo de Investigações Feministas